feliz aniversário. q vc caia num poço fundo, úmido e escuro, vc está nua, na penumbra percebe movimentos rastejantes, uma quantidade incontável de cobras avançam em sua direção, vc pode até gritar mas não adianta nada, qdo as cobras tocam sua pele vc percebe q na verdade elas são minhas línguas, mtas línguas minhas te lambem caoticamente o corpo todo, todas as dobras, minhas línguas entram em seus buracos, todos ao mesmo tempo, entram por um e saem por outro, e finalmente não haverá mais gota de água em vc ou fôlego para som nenhum, e as línguas mortas pelo chão, e o silêncio do sono solitário sem ninguém para te encher o saco. feliz aniversário.
27 jul




a lua me atropela, sempre, me fatia coração, me tem na palma da mão, eu danço eu morro eu vivo, maré suspiro peão.
27 jul



eu por exemplo como salada como se tivesse ganhando créditos pra comer gostosuras dps. como se salada fosse comer negativo, tipo ‘-X comida’, e não a substituição de uma gororoba calórica por alimentos saudáveis ricos em nutrientes para meu organismo. alma de gordo é assim, criançada.
25 jul



na esquina de casa tem um senhor q vende flores na calçada. flores lindas, orquídeas enormes e outras q n sei o nome. passei por ele no instante q uma senhora dizia c a voz fina e frágil ‘q o seu dia seja tão florido qto esse cantinho seu’.
18 jul



tem dias q acordo parecendo meu pai. tem dias q acordo parecendo minha mãe. tem dias q acordo parecendo o pedro pascal. tem dias q acordo parecendo o brad pitt.
uma das afirmações acima não é verdadeira. identifique qual.
4 jul



gente q encosta na fila do caixa. odeio.
3 jul



me ocorreu hj, assim do nada, q mto provavelmente já devem existir por aí bebês chamados 'denéris', 'arya', 'dion snou' e até alguns 'caudrogo'.
1 jul


se me irrita tremendamente andar pela calçada ao lado de um desconhecido q por acaso está exatamente no mesmo ritmo q vc, os dois ali, lado a lado, como se andando juntos, sentindo o incômodo q emana do outro, tentando uma ridícula ultrapassagem q n vai acontecer, tipo dois fuscas ladeira acima, até q um - q normalmente sou eu - desista e deixe o outro se afastar; me fascina ver alguém do outro lado do metrô dançando pequenininho ao som de alguma música em seu fone de ouvido q está exatamente no mesmo ritmo q a q eu estou ouvindo no meu fone, ambos ali, em universos distantes mas no mesmo pra quem olhe de fora, quais as chances das músicas serem a mesma e ainda se fossem as chances de terem começado a tocar no exato momento, n sei. 
só sei q sincronias urbanas daria um bom título para uma história de amor.
29 jun



vou brincar com palavras como você brincou com meu coração.
24 mai



leoa preta madrugada preta, viralatas pretos numa praça preta, vênus preto sobre lua preta, dois lábios pretos trinta e dois dentes pretos, cabelos pretos como a asa da graúna, retrato em preto e preto se tornando neblina branca.
23 mai



vestiu-se de madrugada a leoa e refugiou-se labirinto adentro. com lanterna de lua procuro ver seus olhos faróis.
22 mai



um sino q bate treze vezes, ecoa.
21 mai



pedi ajuda aos viralatas. os sonhos entregam mensagens, me disseram.
20 mai



minha barrinha de sociabilidade gasta mais rápido q a bateria do meu iphone.
19 mai



campinas tem a unicamp, o hemocamp, a campneus, a campbeer e o jardim itatinga.
19 mai



amigos de SP, meu coração é 011 e minha presença agora é igual. cheguei. dps de oito longos anos de rj, cheguei. criança em manhã de natal, cachorro no retorno do dono, sou q sou puro vulcão de vontade.
essas são minhas primeiras 24h de cidade, inauguradas em grande estilo ontem, em pé, na pista, diante da avalanche de som e luz do radiohead. não poderia haver para mim boas vindas melhor nem mais simbólica. me reservei até o momento de fechar os olhos e me sentir ali presente no aqui agora, tanto agradecimento qto firmeza.

voltar para SP é um movimento q se anunciava há tempos, os q me são íntimos cansaram de me ouvir cantar essa canção. então 2018 chegou como o planeta melancholia, sua gravidade agindo como força de transformação radical, em tudo interferindo e, em questão de semanas, o rj tinha ficado para trás. e essa mudança toda, assim meio súbita, não tenho percebido com medo ou insegurança da indefinição, mas como a poderosa energia de q td é possibilidade aberta diante de mim, um convite à vida para q se apresente. 
na mala trago seis projetos meus em franco desenvolvimento. tenho vários de vcs amigos em mente para eles (logo mais entro em contato, ok?). trago a experiência dessa jornada, quase quatro anos como diretor da tv globo, direção de mega-shows e eventos, e algumas novelas, séries e longas como ator. mas trago sobretudo a vontade de me conectar com a vibrante rede criativa tecida diariamente nessa terra. senti uma falta tremenda de estar perto dessa mandala e da gente q sente e faz a realidade se mover. portanto, me convidem. estou com o coração faminto.
23 abr



no dia 28 do mês passado embarquei num avião rumo à zona da mata para mergulhar de cabeça nesse universo-imaginado-tornado-realidade q chamamos de ARIGÓ, o filme. de lá pra cá, não houve sequer um dia q não fosse memorável em algum aspecto. cercado por artistas dos mais diversos talentos, pela energia movedora de uma equipe em ação, pela paisagem mítica de minas gerais e o calor com cheiro de café de toda a gente q aqui habita, e pelo tipo de sensibilidade q se invoca ao tratar com respeito o tema q abordamos, não pude evitar a não ser viver intensamente. viver com todos os poros. viver como se num estado de poesia, longe uma eternidade das mesquinharias cotidianas q nos assolam e nos fazem anestesiar os sentidos mais refinados, tornando-nos brutos.

aqui lembrei q o ator não deve falar e se mexer ao mesmo tempo, q desenhar pessoas sentadas numa cerca é difícil justamente pq elas se mexem mto, q as palavras têm poder, q uma praça é o coração de uma cidade, q os cachorros falam, q o acaso é uma divindade e q a madrugada é um véu q se atravessa. foi um reencontrar-me. 
hj é meu último dia de filmagem. estou evidentemente emocionado. é difícil assumir q se deve partir e deixar tudo isso se tornar memória. mas é assim. minha vida tem passado por uma enorme revolução e esse movimento não pode parar.
os agradecimentos são mtos, aqui concentrados em gustavo fernandez, provavelmente um dos cinco melhores diretores do país, Danton Mello pela inesgotável sensibilidade, toda a competência da Moonshot Pictures e Vivian Golombek pelo convite. 
a partir de amanhã começa uma nova aventura para mim: SP. e essa promete.
20 abr



dps de uma semana na cadeia, uma noite mineira aqui na pousada, em volta de uma mesa de madeira servida de cachaça, artistas e risadas risadas risadas. uma noite assim é sempre uma noite bonita. e mto necessária.
14 abr



entrei na semana como quem atravessa uma cortina e dá de cara com a fantasia de um mundo sombrio de cárcere, tortura e rebelião. de segunda a sexta nosso pequeno circo terá como locação uma antiga cadeia desativada aqui no interior de minas gerais. não há tempo nem sabão q lave daquelas paredes os mtos horrores acumulados e à nós, q somos apenas uma breve passagem, nos cabe canalizar essa memória em ação.
hj acordei e bebi café a goles lentos, sabendo q daqui alguma horas vou apanhar feio de um monte de presos. essa profissão realmente é única.
10 abr



a meia-noite de um domingo para segunda, fina como papel manteiga, afiada como lâmina, infinita como aquilo q distingue fim de semana de semana de fim de semana de novo, lua cheia escondida nas nuvens.
9 abr



três coisas q engordam: pão de queijo, goiabada e cerveja. ufa, sorte q eu to em minas gerais.
7 abr



uma semana atrás eu filmava minha primeira cena em ARIGÓ q estamos a gravar aqui em mg. nos dias q antecederam aquele primeiro 'ação', claro, li reli treli o roteiro, estudei mto sobre o assunto, empenhei horas e horas de imaginação em minhas andanças matinais. cheguei no set cheio de ideias e insights sobre quem era aquela personagem a quem eu daria corpo e voz, mas logo q abri a boca no bater de texto antes de gravar, imediatamente senti q algo estava desencaixado. gustavo fernandez, o diretor, sempre educadíssimo e sensível, deu orientações rápidas e precisas para todos nós e as minhas, em resumo, poderiam ser traduzidas como 'não é nada disso, faça assim'. então, em cinco minutos, enquanto eram feitos os últimos retoques de maquiagem, a fita do lapela era trocada e a marcação colocada no asfalto rente ao meu pé, me despi de toda a construção de nuvens q tinha feito e entrei em cena. nada do q preparei me servia naquele momento. diante do imenso 'e agora?' q se aproximava enquanto ouvia a regressiva 'vai som... câmera rodando...', só me restava uma coisa: o agora em si.

é uma tarefa difícil para mim compreender q a arte do ator envolve estar pleno de nada, estar em paz com o risco constante do incerto indefinido. é um preparar-se para estar despreparado. a tal da página em branco eu acho. bom, isso ou eu q realmente não entendi nada do roteiro qdo o estudei, não podemos descartar essa opção.
mas no fim das contas, as querencias e vontades são irrelevantes, qdo bate a claquete e se ouve o ação, é só o mais puro agora q importa.
3 abr



relendo o texto agora, duas semanas dps, percebo q ele pode insinuar q gustavo, o diretor, impôs sua vontade sobre a minha. não é nada disso. a construção q eu achava ter feito era exercício de ansiedades e vontades minhas e q de fato não estavam em sintonia com a cena surgida qdo os atores e todas as equipes criativas se uniram. por isso 'de nuvens', no sentido de q não eram fincadas, mas projeções solitárias. a cena em si é fruto da convergência de mtas contribuições e, mesmo todas estas unidas, ainda estão sujeitas ao sabor do momento, esse grande agora. em sua sensibilidade refinada, gustavo soube apontar delicada e precisamente o norte para todos nós, nos dando justamente direção. e a saber: o norte, nesse caso, fica bem no meio, no ponto em q todos se encontram.
15 abr



'minha missão nessa vida é o amor, por isso mesmo minha maior dificuldade na vida é justamente o amor', me disse Cristal. bem, então minha missão nessa vida são os carboidratos, respondi.
30 mar


nas minhas últimas 24h de rj, levanto um copo para o ar em brinde. hesito. ao q brindar essa cidade? obrigado rj, eu acho. há sempre algo a agradecer, mesmo q agora só veja a hora da partida. hesito. meu copo parado no ar. bebo meu gole. êxito. agora exit.
26 mar


essa noite sonhei com uma companhia de dança contemporânea. sonhei os bailarinos, as coreografias, os figurinos, os cenarios e até os cartazes, q eram lindos. tinha um q era um céu rosa arranhado e o espetáculo se chamava ‘o nome da vítima’. eles eram estrangeiros, não sei de onde, mas para essa apresentação tinham convidado alguns jovens brasileiros pra participar. não eu, claro, mas eu tava ali observando tudo, e fui me aproximando como quem não quer nada e qdo vi já estava lá no meio da apresentação tentando seguir uma coreografia q nunca tinha estudado antes, cruzando com os discretos olhares preocupados dos gringos, e com aquela sensação nítida e viva de se estar em cena - quem já esteve sabe bem do q eu to falando. não lembro o nome da companhia, mas eles existem aqui nesse palco q trago dentro de mim e ainda consigo vê-los claramente mesmo agora acordado. talvez isso seja um convite para criar essa companhia na vida real e finalmente batiza-la. quem sabe? não custa sonhar.
17 mar



na prateleira da fila do mercado contei dez revistas, oito com mulheres na capa, uma com uma casa, uma com um homem. e o homem era o temer.
13 fev


ja pensou se eu fosse assim exatamente do jeito q eu sou, mesmo jeitão, mesmos assuntos, mesmo senso de humor, lendo os mesmos livros, ouvindo as mesmas músicas, só q sempre falasse “...hj tinha MENAS gente”. só isso, só um errinho de português na vida, mas um bem fodido. e sempre.
2 mar


o tempo numa cidadezinha do interior permite ver melhor os rituais. o senhor q se senta toda manhã no chão da calçada, a véia louca q varre a estrada de terra, a moça dos correios q chega antes e fica esperando encostada no muro, os peões na praça no fim da tarde. o tempo passa mais cristalino, as coisas permanecem. a cidade grande tb tem rituais, as pessoas se repetem, mas são muitos e tantos e amontoados e emaranhados que tudo não passa de um borrão. o tempo é frenético, turvo, e tvz por isso mesmo, mais efêmero.
24 fev


eu por exemplo sempre q vou pegar um avião, levo meu saquinho de cheetos requeijão. eu nem como nem nada. só abro, dou uma boa abanada assim no ar e derrubo no chão, bem no corredor.
15 fev


dos versos mais lindos do mundo: a pizza chegou.
9 fev



meus passos apressados ecoavam pelo corredor, ofegante, abri a porta e entrei na sala de aula. não era a primeira vez q chegara atrasado e nem seria a última, me condenava com o olhar o professor enquanto discorria sobre ‘dom casmurro’. senti q eu seria a vítima da vez, me espremendo por entre as carteiras até sentar. não deu outra. com sarcasmo, me fuzilou com uma pergunta sobre o livro q eu, obviamente, não tinha lido. ao meu lado, um carinha me deu um sorriso sardônico, ‘se fodeu’. como em inúmeras vezes na vida (meus colegas de faculdade podem atestar), lancei mão do q poderia ser considerado presença de espírito, cara de pau, arrogância, ou quiçá até inteligência, mas no fundo, um blefe de quem já não tem nada a perder: “machado de assis sempre foi um crítico afiado da sociedade brasileira, da carioca sobretudo, e o foi valendo-se de um humor mordaz. pra mim, mais do q crítico, ele era irreverente. diferente de nelson rodrigues, q era um iconoclasta”. a expressão na cara do professor mudou de desprezo para ‘hmm, interessante’. o carinha do lado, q até então tava se dando bem na aula, começou a rebater com um monte de opiniões formadas, falou sobre consumismo, sobre capitalismo, sobre vários ismos, ao q eu, friamente, falava como se pra mim mesmo, mas em alto e bom tom “meu deus, q cafona”. a classe toda ria e o carinha foi se enervando, o professor tentou intervir e eu ali só no “afemaria q papo furado”. a coisa toda virou uma briga e, conclusão, o professor acabou tirando o carinha da sala de aula.
daí eu acordei.
9 fev


do ano novo até o carnaval é a siesta do brasil.
6 fev


outro dia, na calçada logo na minha frente, uma senhora de uns sessenta e poucos, bem vestida até, poderia mto bem ser minha vizinha, pôs um dedo sobre uma de suas narinas, esticou a cabeça um pouco pro lado e mandou aquele sonoro assoprão q a caca sai voando mas tb fica grudada nos dedos. enquanto ela limpava a mão na bolsa, eu, em puro horror, pensava 'pronto, chegamos. se alguém ainda tinha dúvidas, é o fim, é o fim'.

ps: é claro q ela poderia ser minha vizinha. eu moro em copacabana.
2 fev



adoro gente q lixa as unhas enquanto espera numa fila. me faz lembrar q a vida não é tão séria assim.
30 jan



na vida é mto importante aprender a dizer não. especialmente qdo o garçom aponta pro copo e diz ‘mais um?’.
29 jan



'pra baixo todo santo ajuda', encarei a ladeira nesse calor dos infernos. verdade verdadeira, quicou a maçã em newton, mas como teria surgido essa expressão? quem teria dito isso pela primeiríssima vez? tirando a poeira das asas, levantou o dedo, 'opa', disse lúcifer. eu, claro, saí correndo.
25 jan



estudos recentes indicam q pessoas inteligentes xingam mais do q idiotas filhasdaputa.
23 jan



o sono, cientificamente falando, é algo q se esconde depois do despertador.
23 jan



botão do foda-se com cinco letras, pizza.
12 jan



as gotas de suor batendo no chão qse no mesmo ritmo da música q supostamente serve pra me animar, e eu lá contando ...4, 5, 6..., o olhar fixo na poça se formando embaixo de mim. detesto música de academia, pra mim é a pior parte do ritual todo da malhação, isso e me pesar só pra constatar q dps de poças e poças de suor não perdi nem 1kg, mas a música é pior ... 9, 10, 11... de repente, sei lá pq, a música pára. deve ter dado algum tilt no computador, ou a mocinha se enrolou com a playlist, não me importa, coloquei na conta de jesus q resolveu me conceder um milagresinho no meio da semana ... 13, 14, 15! mó poção de suor, me orgulho enquanto recupero o fôlego murmurando palavrões. é estranho uma academia sem música, parece q acenderam a luz no meio da festinha e todo mundo ficou com aquela cara de pego no flagra, né?, comento com meu personal, q olha fixamente no celular. ele não responde, nem ri. repito o comentário, nada. ei, td bem ai?, me preocupo, de repente recebeu noticia ruim, n sei. ei, du? du? cutuco ele no braço e ele não se mexe. então me dou conta do absoluto silêncio na academia, nenhum barulho de peso, nenhuma conversa, nada, nem um pio. meu coração dispara. olho ao redor e todas as pessoas estão imóveis, congeladas no meio de seus exercícios, a academia inteira congelada. agora começo a suar mto, dessa vez frio. dou um berro, ninguém responde. saio apressado, subo as escadas, a tiazinha marombeira congelada no meio de um passo, chego no andar de cima e vejo as esteiras todas funcionando, vazias, e uma pilha de gente amontoada perto da parede, como manequins jogados, em poses de caminhada. corro em direção à rua, os carros todos engavetados, a tv do boteco ligada mas fora do ar, os pombos todos congelados em pleno vôo espalhados pela calçada, todo mundo imóvel, nossa senhora de copacabana em silêncio como nunca se ouviu antes. mal consigo acertar os números no celular de tanto q minhas mãos tremem, mas de nada adianta, chamada indisponível. escrevo essa msg na esperança de q alguém esteja aí. alguém está aí? alguém! alguém!
11 jan



da observação dos gatos faço minha filosofia, quisera olhos q brilhassem no escuro e a amizade dos deuses egípcios.
10 jan




eu por exemplo acho curioso q banhar-se não queira dizer cubrir-se com banha.
6 jan



2018.